A pesquisa transformada em arte
Exposição mostra a vida nos butiazais do Rio Grande do Sul e Uruguai. O trabalho é fruto de quatro anos de observação.
Na decoração, chapéu, colchão, bolsa, caixas e produtos industrializados. Todos provenientes da cultura do butiá e suas diversas espécies nativas no Rio Grande do Sul. A versatilidade da fruta, que até então, acreditava-se que a única utilidade estava no preparo de licores, chamou a atenção dos visitantes na abertura da exposição “Vida no Butiazal”, nesta quarta-feira, 16, em Porto Alegre/RS. Fotografias mostram as diferentes vidas existentes em butiazais do Rio Grande do Sul e do Uruguai. Ao todo, 60 registros captam a flora e a fauna presentes na população nativa de butiazeiros.
A exposição é o resultado de um trabalho de quatro anos realizado pela Embrapa Clima Temperado, de Pelotas/RS, sob a coordenação da pesquisadora Rosa Lia Barbieri. Entre um dos cenários fotografados, a propriedade da família Barros recebe destaque: uma grande foto mostra uma parte dos 800 hectares de butiás. A propriedade fica na cidade de Tapes/RS, e abriga aproximadamente 70 mil pés de butiás. Desde pequenos, os irmãos Napoleão e Carmen Barros estão acostumados a viver em meio ao butiazal e herdaram do avô a paixão pela fruta: “nosso avô sempre viu os butiás como algo mágico, ele preservou essa cultura, e hoje, nós fazemos o mesmo”, afirma Napoleão.
Carmen emocionou-se ao ver a exposição. “É todo o nosso trabalho, lutamos para isso, queremos preservar e valorizar a cultura do butiá, que é também a cultura do nosso Estado”, conta a proprietária, que tem também algumas fotos expostas de sua autoria.
Os retratos da vida dos butiazais foram feitos pelos participantes do projeto, é uma exposição de muitos autores, muitas visões, muitas experiências. Marene Machado Marchi, doutoranda e participante do projeto de resgate do butiá, destaca o quão diferente é viver no butiazal. “Lá é tudo muito bonito, uma experiência única, é como mergulhar em um túnel de um mundo único”, confessa.
A exposição foi ao encontro do objetivo da Fundação Zoobotânica do Rio Grande do Sul, local da mostra. “Uma das nossas funções é divulgar e popularizar a ciência, e essa exposição se encaixa perfeitamente com isso”, diz Luiza Chomenko da Fundação, que é parceira da Embrapa nesse e em outros projetos.
Mercedes Ribas representa a Universidade da República do Uruguai, ela é a ligação entre os trabalhos feitos aqui e os do país vizinho. O intercâmbio de informações, de acordo com ela, colabora com resultados na pesquisa do butiá e facilita a divulgação da cultura, que só existe nesses dois locais.
Vidas no Butiazal
Um pássaro ronda os butiazeiros do Rio Grande do Sul e também a música de Chico Buarque. Na vida de Andhiara Amaral, estudante de biologia da UFRGS, “Caracará” sempre esteve presente na forma de melodia: “Caracará lá no sertão é um bicho que avoa que nem avião”.
“Sempre cantei uma música que falava de um tal Caracará. Nunca soube o que era. Daí agora eu vejo uma foto com esse nome e descubro que é um pássaro”, conta animada a estudante.
Assim como Andhiara, outros visitantes também tiveram descobertas. As vidas no butiazal impressionaram os participantes na abertura da exposição. Muitos mal conheciam o butiá, e agora, conhecem boa parte do ecossistema que envolve o fruto.
A arte e a pesquisa
A história dos butiazais confunde-se com a história do próprio Pampa, fazendo parte da cultura rio-grandense. “Temos que fazer o butiá ser conhecido, tornar popular uma cultura que é daqui”, afirma o chefe-geral da Embrapa Clima Temperado, Clênio Pillon. A arte, complementa ele, é uma forma de aproximar o público da pesquisa. E é essa aproximação, que a pesquisadora Rosa Lia Barbieri busca com a exposição, que é um meio eficaz de divulgar o estudo.
O ensaio fotográfico vai virar um e-book, livro digital, com a apresentação das 60 fotos expostas, e de outras, que também fizeram parte deste trabalho. Ao todo, 300 fotos contarão a história dos butiazais e o trabalho da pesquisa na valorização desta fruta nativa.