Condomínio de sem-teto escancara miséria local
Já faz meses que várias pessoas passaram a ocupar, durante a noite, extensa área junto ao estádio da Boca do Lobo.
Além do consumo de bebidas alcoólicas e de drogas, eles brigam, fazem suas necessidades fisiológicas na rua, e também perturbam motoristas que estacionam seus veículos nas proximidades. Comerciantes do Shopping Lobão já não aguentam mais essa situação.
E o pior é que ninguém faz nada para resolver o problema numa das avenidas mais movimentadas de Pelotas que é a Bento Gonçalves.
Existem dois espaços diferentes no Condomínio Edifício Shopping Lobão. Um é comercial e o outro é residencial, onde moradores de rua habitam o chão frio enrolados em trapos, protegidos, parcialmente pelas marquises.
O prédio comercial que fica junto à Boca do Lobo, estádio do Esporte Clube Pelotas, é também o lugar predileto dos moradores de rua da avenida Bento Gonçalves. A situação é complicada, de um lado pessoas dormindo na pedra fria e de outro comerciantes que têm de pagar pela desigualdade social. Todo dia a administração do condomínio precisa limpar a frente do prédio, onde algumas pessoas urinam e defecam. “Muitas vezes tem sangue, urina, fezes… é um caos”, lamenta Bárbara Seus, proprietária do estabelecimento Buraco D’Agulha.
Os comerciantes relatam uma série de problemas no local. Os arrombamentos e assaltos frequentes, o ambiente insalubre, brigas, consumo de bebida alcoólica e drogas, dentre outras coisas. Bárbara chegou até mesmo a entrar em contato com a Vigilância Sanitária, após encontrar a frente do seu estabelecimento coberta de sangue. O órgão aconselhou a comerciante a denunciar os fatos ao Ministério Público.
Segundo os comerciantes, nos dias de chuva o movimento de moradores de rua é ainda maior, chegando a reunir 10 pessoas no local. “O problema é que ninguém pode fazer nada, mas nossos clientes não são obrigados a aguentar o mal-cheiro, a urina e a cachorrada”, afirma Bárbara Seus. “Esses dias estava chovendo e eu queria vir aqui, mas então tinha um monte de gente no chão e uma cachorrada… Não consegui entrar”, diz Dinamar Moura da Silva, cliente da Buraco D’Agulha.
“É uma questão social muito complexa. Gostaríamos de poder ajudar mais. Existe, porém, entre nós, uma espécie de acordo tácito, os moradores de rua cuidam os carros, ajudam os ambulantes e não ocupam determinados espaços”, pondera Maria Antero, consultora da Central de Sócios do Esporte Clube Pelotas. Maria reconhece que essa situação é complicada para os comerciantes, mas não enxerga muita coisa que se possa fazer.
Segundo Moisés Rezende, proprietário da Ferragem Rezende, tem momentos em que a situação se torna insustentável. O comerciante relata brigas, roubos, sujeira etc. De acordo com Moisés, existe um projeto de gradear o local, mas por ser um espaço público o processo não seria tão simples. Os comerciantes lamentam ter de pagar um aluguel caro e não poder oferecer aos seus clientes um local agradável.