DISCRIMINAÇÃO RACIAL : UFPel promove palestra no dia de luta
No dia internacional de luta contra a discriminação, palestra “Preconceito racial e igualdade jurídica no Brasil”
Por Carlos Cogoy
A origem foi massacre de negros na África do Sul em 1960. Num dos inúmeros protestos contra o regime do Apartheid, manifestantes contestavam a Lei do Passe, que restringia a circulação. Tropas militares alvejaram manifestantes e houve 69 mortos, bem como dezenas de feridos. Como símbolo da luta contra a discriminação, a Organização das Nações Unidas (ONU), instituiu o 21 de março como data internacional. Em Pelotas, a data nem sempre tem sido lembrada. Porém, nesta terça, acontecerá programação especial. Trata-se da palestra “Preconceito Racial e Igualdade Jurídica no Brasil”, promoção do Núcleo de Ações Afirmativas e Diversidade (NUADD/UFPel), cuja chefia está a cargo da professora Drª. Rosemar Lemos. No evento, participação da professora e mestra Marielda Medeiros. Em destaque, a Drª. Eunice Aparecida de Jesus Prudente, docente na Universidade de São Paulo (USP). A programação terá início às 18h no salão de atos da Faculdade de Direito da UFPel – Praça Conselheiro Maciel 215.
CONVIDADA – Conforme divulgação, Eunice Aparecida de Jesus Prudente “possui graduação em Direito pela Universidade de São Paulo (1972), mestrado em Direito pela Universidade de São Paulo (1980), e doutorado em Direito pela Universidade de São Paulo em 1996. Atualmente é professora doutora da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, parecerista ‘ad hoc’ da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo, e professora doutora titular da Universidade São Francisco. Tem experiência na área de direito, com ênfase em advocacia pelos Direitos Fundamentais, Direito do Consumidor, Direito Ambiental e Direito Administrativo. Ela tem ministrado aulas desde 1985 dessas disciplinas, além de Teoria do Estado e Direito Constitucional. Como pesquisadora tem formulado sobre os seguintes temas: diferenças e desigualdades sociais; relações étnico-raciais; o negro na ordem jurídica brasileira; direitos coletivos – difusos e individuais homogêneos; advocacia pelos direitos humanos fundamentais; feminismo; participação popular e planejamento”.
ROSEMAR Lemos é pelotense e uma das poucas docentes negras na UFPel. À frente do Núcleo de Ações Afirmativas e Diversidade (NUAAD), dia 11 deste mês ela coordendou o seminário “As Cotas Raciais e Seus Sujeitos de Direito”, que contou com explanação de Gleidson Renato Martins Dias.
EXEMPLO de abnegação, empenho e superação, Rosemar cursou arquitetura, especializou-se e realizou mestrado em química, doutorando-se em engenharia civil pela UFRGS. Na Universidade de Aveiro em Portugal, pós-doutorado em Ciências da Arte e do Patrimônio. Ela acrescenta: “Entre os anos de 1990 e 1999 trabalhei na Prefeitura Municipal de Pelotas. De 1999 até 2001, mediante concurso público, passei a professora no IF-Sul, e trabalhei com as disciplinas de geometria descritiva, desenho técnico e propriedade dos materiais. Em 2001 fui contratada pelo governo do Estado como professora, e ministrei aulas de matemática e química na Escola Estadual de Ensino Médio Areal. Por lá, com apoio de alunos, professores e funcionários, criamos o projeto ‘De mãos dadas com nossas raízes e nossos irmãos’, que visava o cumprimento da Lei 10.639 e a obtenção da autoestima de crianças, jovens e adultos. Em 2006, realizei concurso público, fui aprovada, e passei a ser também professora da UFPel, como substituta, na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo. Simultaneamente ministrava aulas na escola estadual e na universidade. Em 2008, mediante a realização de outro concurso, passei à função de professora adjunta da UFPel, criando já naquele ano o grupo de extensão e pesquisa ‘Design, Escola e Arte’, do qual passaram a participar, também, ex-alunos da Escola Areal que, naquele momento tinham chegado à universidade”.
SECONEP – Rosemar idealizou o Seminário da Consciência Negra de Pelotas (SECONEP), que é realizado desde 2009. “O evento ocorre em novembro, e resulta de projeto de extensão universitária, tendo por objetivos: caracterizar e evidenciar a cultura negra na cidade de Pelotas, discutir os problemas sociais enfrentados pela etnia afro-descendente além de possibilitar a formação complementar dos alunos”, diz a professora. Em 2015, ela transferiu a coordenação para cursar o pós-doutorado em Portugal.
LUTA – Rosemar menciona: “Minha origem é humilde, meus avós eram analfabetos, pois não tiveram a possibilidade de estudar. Já minha mãe e meu pai tiveram oportunidades diferentes. Percebendo que a educação era a única forma de ascender socialmente, lutaram para que seus filhos permanecessem na escola. Meu pai não concluiu o nível fundamental, mas ajudou minha mãe, trabalhando, sem hora pra começar ou parar, a fim de sustentar os seus estudos e a família, já que somos quatro irmãos, três filhas e um filho. Em relação ao preconceito racial, isso é pra vida toda, e a gente acaba acostumando e desenvolvendo estratégias, de ataque, de defesa, de convencimento. Na escola, na faculdade, durante a minha formação, houve muitos casos. Entre tantos fatos, posso citar a situação de conflito quando exigi que meu pai, mesmo não tendo curso superior, me entregasse o diploma de arquiteta. Então, ser negro é superação, é provar diariamente que podemos, que somos capazes de, é forçar a porta que tantas vezes tentam fechar na nossa frente, mas não podemos desistir. Sigo o lema que diz: ‘Não sabia que era impossível, foi lá e fez’”.