Entrevista com Aleixo : “Não podemos ficar chorando o que passou”
O Pelotas tem dois acessos à primeira divisão. Nas duas oportunidades – em 1983 e 2009 -, o presidente era Luiz Antônio de Melo Aleixo. Em 2016, o dirigente está de volta ao comando do clube, com a mesma finalidade: tirar o Lobão da segunda divisão. Uma missão complicada em função da crise financeira do clube, que acumulou dívidas nos últimos anos. “Temos que enfrentar a realidade. Essas dificuldades são colocadas para serem superadas e não para ficarmos lamentando”, afirma.
Aleixo era o preferido para assumir a presidência do Pelotas desde o momento em que houve o entendimento que era a hora de o clube resgatar suas principais lideranças. Em novembro, ele desistiu da candidatura, alegando não ter naquele momento as garantias financeiras para assumir o desafio. Flavio Gastaud (outra liderança histórica na Boca do Lobo) foi eleito, mas três meses depois renunciou ao cargo em função do desgaste decorrente do episódio de um possível aluguel do estádio ao Brasil.
Em meio à turbulência causada pela renúncia de Gastaud, Aleixo foi convencido a aceitar à presidência do Pelotas pela 12ª vez. Mas com o compromisso de apoio dos conselheiros e com a adoção de um discurso positivo a fim de assegurar o apoio dos torcedores. “As coisas só vão acontecer com o apoio do torcedor, os conselheiros já estão atuando. Eu estou sentindo que as pessoas estão querendo ajudar”, ressalta o presidente.
Luiz Antônio Aleixo assumiu o Pelotas com uma comissão técnica contratada por seu antecessor (seu treinador preferido no final do ano era Paulo Porto) e um grupo de jogadores formado. Mas não há tempo, dinheiro e nem motivo para mudança. “O Pelotas teve sorte de contratar uma comissão técnica e um grupo de jogadores que estão bastante focados no acesso”, diz.
DM – O senhor já tirou o Pelotas duas vezes da segunda divisão. Volta agora para conseguir o terceiro acesso?
Aleixo – Em primeiro lugar não fui eu que tirei, nós tiramos. Um grupo bastante bom de companheiros na direção, um apoio enorme de torcedores do Pelotas, e por duas vezes realmente conseguimos o acesso. Tomara que a gente tenha novamente o mesmo sucesso, sabendo das dificuldades, é um campeonato esdrúxulo; e eu já nem sei mais o número de clubes – de repente o Pelotas pode até já estar classificado (risos). Mas é um campeonato muito perigoso. Às vezes eu vejo dizer “ah, tem o Caxias!”, eu digo que tem o São Luiz, tem o São Gabriel, o Frederiquense, o Brasil de Farroupilha, o Avenida… Um número grande de clubes que tem o mesmo objetivo, e até com uma situação financeira, não digo privilegiada, mas com uma estabilidade maior.
DM – Qual a diferença do momento atual para as campanhas dos acessos anteriores?
Aleixo – Cada época tem suas características. O medo que eu tinha se tornou em realidade. Eu sempre falei que, depois do acesso do Pelotas à primeira divisão – e isso não acontece só com o Pelotas -, os clubes ficam muito dependentes dessa cota da televisão e param com aquele trabalho braçal de buscar recursos entre seus colaboradores. Para mim, isso foi fundamental na vida do Pelotas nestes últimos anos. O Pelotas vem aí empilhando dívidas sem ter fontes maiores de arrecadação. Uma conta fácil de ser feita: só com a cota de televisão, nesses anos em que o Pelotas não participou da primeira divisão, o valor ultrapassaria a R$ 3 milhões. Isso daria um suporte muito bom ao clube, a não ser que o Pelotas continuasse gastando mais do que poderia. De qualquer maneira eu tenho certeza de que a dívida do clube teria que ser bem menor. Mas não podemos ficar chorando o que passou. Temos é que enfrentar a realidade.
DM – No final do ano passado, quando o senhor era candidato a assumir a presidência do Pelotas, tinha um acerto encaminhado com Paulo Porto. Depois com a desistência de sua candidatura, Flávio Gastaud foi eleito e houve a contratação de Fabiano Daitx. O que representa assumir o clube com um treinador que não foi contratado pelo senhor?
Aleixo – São momentos diferentes. O Pelotas contratou um treinador muito competente e que está muito entusiasmado com os objetivos do Pelotas, que o principal é o retorno à primeira divisão. Tenho conversado bastante com o Fabiano e tenho sentido muita firmeza nas suas convicções. Se houver necessidade de reforços, e principalmente condições financeiras para que isso aconteça, nós temos que fazer o possível e o impossível para ter uma equipe forte.
DM – Além do acesso à primeira divisão, quais são seus outros propósitos nesta volta à presidência do Pelotas?
Aleixo – Não podemos deixar de lado, esquecer os compromissos financeiros assumidos, especialmente as pendências na Justiça do Trabalho; e por isso cada vez mais as pessoas têm que se comprometerem com a busca desses recursos. Paralelo a isso, a gente entra na Boca do Lobo e vê que é preciso fazer pinturas, reformas. Eu também tenho dito que lá no Parque Lobão nós precisamos evoluir, cercar um gramado para que o Pelotas faça seus jogos das categorias de base; feminino e até mesmo torneio de clubes que não tem onde jogar; campeonato da Liga Pelotense, colégios, universidades… São 10 hectares que precisam ser muito bem aproveitadas. Futuramente, o Pelotas terá que ir se mudando para lá, deixando a Boca do Lobo somente para jogos e parte comercial.
Pressão é marca da competição
Quem acompanhou as trajetórias de 1983 e 2009 sabe que um dos adversários mais fortes na segunda divisão (agora chamada de Divisão de Acesso) é a ansiedade causada pela necessidade de subir. Uma angustia que se tornou ainda mais intensa a partir do ano passado, quando apenas o campeão garante ascensão à elite do futebol gaúcho. É apenas uma vaga para 16 postulantes, embora alguns estejam mais preocupados em evitar a queda da Terceirona do que sonhar com o Gauchão de 2017.
O Pelotas fez a melhor equipe da segunda divisão de 1983, ficando com o primeiro lugar nas duas fases classificatórias de uma competição que começou em abril e se estendeu até o dia 7 de dezembro. A boa campanha não impediu a tensão no quadrangular final, que teve a participação também do Santa Cruz, do 14 de Julho de Livramento e do 14 de Julho de Passo Fundo. O Lobão foi campeão, com o comando técnico de Paulo de Souza Lobo, o Galego. O Santa Cruz ficou com a segunda vaga.
A campanha de 2009 encerrou uma peregrinação de cinco temporadas na segunda divisão. O Pelotas precisou de três treinadores para chegar ao acesso. Começou com Joel Corneli, que cedeu lugar para Beto Campos e, por fim, o sucesso com Beto Almeida. O Porto Alegre foi o outro time que subiu naquele ano.