HABITAÇÃO : Denúncias de irregularidades no “Minha Casa, Minha Vida”
Câmara convoca secretária municipal após receber denúncias de moradores
A ausência dos dois principais representantes da Prefeitura na audiência pública realizada pela Câmara na noite de sexta-feira, sobre o programa Minha Casa, Minha Vida – a secretária de Justiça Social e Segurança, Clesis Crochemore, e o superintendente do Cadastro Social, Marcelo Pinheiro – revoltou inscritos e moradores presentes, que lotaram o plenário do Legislativo.
A falta de motivos para a ausência levou os vereadores Ademar Ornel (DEM) e Ricardo Santos (PDT) a convocarem os dois para comparecer à Casa no dia 19 de agosto, às 19h, em nova audiência sobre o assunto.
Foram cerca de três horas de denúncias. A questão do cadastro que não é respeitado foi a principal, mas os inscritos também se queixaram da maneira com que são tratados na Superintendência de Cadastro Social, setor que coordena o cadastro habitacional do município. “Fui tratado como um cachorro”, afirmou Alex, quando pediu o microfone para contar que está inscrito com a esposa desde 2007 e até hoje não foi chamado. “Minhas duas irmãs, que se inscreveram depois de mim já receberam suas casas, uma no Fernando Osório, outra no Haragano, e eu ainda estou na lista de espera. Outras pessoas passaram na minha frente. Então resolvi pedir demissão do meu emprego, pode ser que agora eles me chamem”, afirmou o rapaz.
Para o presidente da Câmara, Ademar Ornel, o descaso com a população e a ausência dos representantes do Executivo precisam ser apuradas. “O agente público é pago com o dinheiro do povo. As pessoas estão sendo mal orientadas, numa secretaria de cidadania. Tem gente esperando a visita da assistência social há sete, oito anos”.
Ornel pediu, juntamente com o vereador Ricardo Santos, que fossem feitas cópias da audiência pública, para serem encaminhadas ao Ministério Público Federal, Ministério Público Estadual e à Polícia Federal.
O caso de Alex foi um entre tantos outros de pessoas, cujos cadastros feitos há vários anos, nunca tiveram resposta. “É um programa social ou um comércio disfarçado?”, indagou um senhor.
Daniela, que recebeu sua casa, pediu o microfone e afirmou: “fomos abandonados pelo Serviço Social (Prefeitura) e a Caixa”. A casa onde mora, contou, está com as paredes rachadas, as lajotas rachadas e a pintura descascando. “Pago uma mensalidade de R$ 25,00, e mais R$ 50,00 de água e esgoto, que não tenho”, denunciou.
O síndico do residencial Obelisco, Vitor Alves, é o quarto a ocupar o cargo. “Antes eu criticava os síndicos, hoje sinto na pele o que eles passavam. A Prefeitura largou de mão. O esgoto está entupido, tem morador destruindo as casas, a droga rola solta, o salão de festas está destruído”, contou.
VENDAS – Autor da proposta de audiência pública, o vereador Ricardo Santos disse ter recebido denúncias de várias transações imobiliárias com imóveis do Programa Minha Casa, Minha Vida, o que é proibido por lei. “Já existe até ocorrência policial da venda de uma casa por R$ 12 mil”, afirmou.
Para o vereador, a situação do programa habitacional em Pelotas comprova o “descaso do governo com a população. É inadmissível que a secretária não esteja aqui. Agora não faremos mais convite, vamos convocar”.
Ele recebeu o apoio do colega Rafael Amaral (PP). “A secretária Clesis é muito bem paga para ser secretária. Ela deveria estar aqui”. Amaral referiu-se também à situação de uma senhora, que mora no Balneário dos Prazeres, com dois filhos deficientes, que estudam na Apae e no Cerenepe, e que está inscrita no programa Minha Casa, Minha Vida há quatro anos e até hoje não foi chamada.