Impactos da pandemia pioram o padrão de sono da população
Especialista destaca dicas para amenizar os problemas e praticar uma boa higiene do sono
A Associação Médica do Rio Grande do Sul (AMRIGS) propõe a temática do sono para ressaltar a importância e os cuidados em torno do tema, especialmente no período de isolamento social. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), os distúrbios do sono afetam 40% dos brasileiros e 45% da população mundial. Para a neurofisiologista e neurologista especialista em Medicina do Sono, Bianca Cecchele Madeira, os impactos da pandemia sobre o sono são muitos e têm causado piora no padrão da população em geral.
“A ansiedade gerada com as dificuldades e incertezas do momento atual é responsável por um aumento expressivo nas queixas de insônia, com piora na qualidade de vida. Muitas pessoas estão apresentando um padrão de atraso de fase do sono, em que os horários de dormir e acordar estão, em média, duas horas além de seus horários habituais. Isso se deve principalmente à perda de referências, de pistas ambientais, que ocorrem em decorrência do home office, por exemplo. Ao ficarmos mais em casa, deixamos de nos expor à luz natural, o que é fundamental para a regulação do nosso relógio biológico interno”, afirma.
Estima-se que a insônia afete entre 20% e 40% das pessoas no mundo. Conforme explica Cecchele, existe também a pandemia de dormir mal e pouco pois, na sociedade em que vivemos, o tipo de vida que levamos e o excesso de trabalho muitas vezes fazem com que o sono fique em segundo plano.
“Não escolhemos dormir. Inclusive, existe uma noção de que quem dorme demais ou em diferentes horários do estabelecido socialmente é preguiçoso, a cultura do ‘Deus ajuda quem cedo madruga’, e por aí vai. Além disso, as pessoas não costumam ter uma boa higiene do sono, ou seja, hábitos e rotinas tanto diurnos, quanto noturnos, que propiciem um bom sono, que otimizem a nossa fisiologia”.
Para amenizar os problemas e praticar uma boa higiene do sono, segundo ela, é necessário manter horários regulares para dormir e acordar, se expor à luz natural durante o dia, praticar atividade física regular, ter uma dieta balanceada e de acordo com o horário do dia, evitar alimentos e bebidas estimulantes, especialmente no final do dia, além do manejo adequado do estresse e evitar uso excessivo de telas, especialmente próximo ao horário de dormir.
“Na última década é que surgiram os Programas de Residência Médica em Medicina do Sono. Mas essa realidade está mudando e devemos educar nossa população de que dormir bem é uma necessidade vital, da mesma maneira que comer. Se não nos alimentamos bem, colocamos em risco nossa saúde. Assim também acontece com o sono. Além dos efeitos a curto prazo, existem os efeitos a médio e longo prazo, com maior risco cardiovascular e de doenças neurodegenerativas, por exemplo. É uma questão de saúde pública”, explica.