Diário da Manhã

quarta, 01 de maio de 2024

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Mateus da Rosa ajuda pessoas através das lutas : “Jiu-Jitsu salva muitas vidas”

13 dezembro
08:47 2021

Por: Henrique König

A ideia inicial era a divulgar o Seminário com o judoca campeão pan-americano e mundial, João Derly. No dia 18 de dezembro, entre as 10h e as 12h, o porto-alegrense vem a Pelotas conhecer o projeto social Aqui Sempre Tem Treino, falando de sua trajetória, de sua escalada vencedora e também treinando com os pelotenses, em uma troca de experiências que envolve Judô, Jiu-Jitsu, Hapkidô e muito mais. Mas a pauta vai além.

A nossa conversa é com Mateus Black, instrutor e professor de Jiu-Jitsu. Em breve apresentação, Mateus da Rosa treina Jiu-Jitsu há mais de 15 anos, entre paradas e retomadas, por conta de lesões e outros empecilhos. De forma contínua já são pelo menos 10 anos na Equipe Sul Jiu-Jitsu, responsável por trazer o judoca João Derly a Pelotas.

Mateus começou no Judô, em uma equipe que hoje não existe mais e foi migrando entre Boxe, Capoeira e outras Lutas, trajetória comum entre quem transita pelas artes marciais. Conta que seguiu a graduação correta, das faixas branca, azul, roxa, marrom até chegar ao grau da preta, quando saem instrutor e professor e seguem acompanhando mestres mais graduados, com mais tempo de faixa preta. “As equipes que seguem as normas são para no mínimo 10 anos para pegar a faixa preta. Eu recém peguei. A nossa segue a regulamentação, não pula essa ‘lei’. Oferecemos qualidade de treino e nível técnico”, conta o instrutor.

Muitas crianças participam do Projeto de Jiu-Jitsu, que busca oferecer refeições a quem precisa, além de melhoras na autoestima, na concentração e no aprendizado

A Sul Jiu-Jitsu tem sede na rua Humberto Lopes de Oliveira, número 91, no chamado Jardim Europa, no Bairro Areal. De acordo com Mateus, todos podem treinar e são bem-vindos: “Todo público. Recebemos todo mundo de bem que queira treinar e aprender. Nosso Jiu-Jitsu não é só no solo, é defesa pessoal, é aprender queda, um JJ completo. Tem o olímpico, o mais voltado para defesa pessoal e procuramos contemplar todas essas partes”.

Além da sede no Areal, são mais três filiais: na rua Santa Tecla com a Av. Bento Gonçalves, uma no bairro Porto, com projeto social para crianças carentes, com sede no Clube Náutico Gaúcho, e uma terceira na Arena Bito, a caminho do Laranjal, local do evento que traz o campeão João Derly.

Sul Jiu-Jitsu aceita alunos interessados de todas as idades, oferecendo benefícios para uma melhor qualidade de vida

“João vem para conhecer o projeto social e nossos treinos. Estamos tentando expandir esse projeto com as crianças em vulnerabilidade. Vem para conhecer a criançada e o nosso pessoal. Sou muito fã dele, estávamos há tempo tentando trazê-lo. Ele estava sem muitos horários, mas dessa vez conseguimos. No sábado, às 10h–12h”, explicou. “Vai ser um grande treino. Derly vai contar a história dele, mas também trocar experiência com outros faixas pretas de outras lutas.”

ENSINAMENTOS E VALORES: “o Jiu-Jitsu salva muitas vidas. Tira muita criança da rua, fazendo com que não entrem no tráfico, na criminalidade. Elas aprendem com disciplina, confiança e autoconfiança, superação, lealdade, controle de raiva, controle de emoções. O JJ ajuda contra a depressão, ajuda trazendo paciência e tranquilidade”.

“A nossa equipe está sempre aprendendo e repassa para crianças e adultos. Trabalhamos com todas as gerações. Desde as crianças mais novas até se alguém quiser treinar com 80 anos. Temos educadores físicos para trabalhar o físico e o mental, também com acompanhamento de nutrição. Cobramos pequena mensalidade para trabalhar corpo e mente.”

Em tempos da prolongada pandemia, uma saída por qualidade de vida: “Temos trabalhadores que chegam estressados do dia a dia, eles nos comentam isso e através de uma conversa, de um treino e até darmos risada depois, eles saem mais felizes. Vão mais tranquilos para casa”.

Diferentes realidades convivem nos espaços da Sul Jiu-Jitsu: “Já busquei aluno que estava em casa de traficante. Conversamos e consegui levar o aluno dali aos treinos. Para ele não precisar voltar para essa vida, a gente juntava alimento, fazia um rancho para ele e o salvamos disso. A trajetória que aprendi desde jovem eu tento passar para eles. Hoje eu trabalho também em um dos bairros mais perigosos, que é o Dunas, lutando para eles não entrarem nesse mundo do tráfico”, apontou.

PROJETO SOCIAL

“Já fizemos cafés para os alunos. Todo o treino a gente faz um café da manhã, do nosso bolso. Alguém tem de ajudar, isso tem de ser feito. Já salvamos alunos que estavam com fome, sem a condição de comerem bem durante o dia para irem treinar”, conta Mateus.

Aqui Sempre Tem Treino – o projeto é para qualquer criança que queira fazer uma arte marcial. Queiram mudar de vida. Como? Saindo da baixa-autoestima. Melhorando o desempenho escolar com a professora Alana, que acompanha o projeto, desde a alfabetização até outras séries. “Muitos chegam com baixa auto-estima. Ah, porque eu sou gordinho ou magrinho, falam do meu cabelo, porque eu sou negro – então a gente procura tratar a confiança das crianças. A gente tem a paciência para eles aprenderem os movimentos. E temos a lei de que, se alguém rir do colega, vai pagar o treino junto. Se o colega cair, vamos levantá-lo. Somos todos irmãos de treino. Procuramos oferecer tudo que está ao nosso alcance. Procuramos dar um bom caminho para esses jovens.”

A luta incessante pela estrada certa: “A gente tenta salvar todas as crianças, mas, às vezes, de 10, a gente consegue salvar uma vida. Mas isso já nos vale a pena. Às vezes os próprios pais não colaboram, mas a gente tenta corrigir os jovens dentro da Academia. Peço que os pais cheguem lá pelo menos uma vez por mês, para os pequenos se sentirem acompanhados. Gosto e preciso conhecer os pais e responsáveis dessas crianças e os convidamos para treinar juntos, inclusive”, disserta Mateus Black.

“Quem não é de bem acaba saindo com o tempo. Na equipe Sul Jiu-Jitsu estou há 10 anos, porque me sinto casa. Minha base familiar sempre foi pobre, minha mãe me criou à base de farinha de milho, com cinco irmãos e sempre nos criou contra todas as dificuldades. Mesmo com câncer, ela se formou na escola, aos 45 anos, entre as meninas do colégio, e está aposentada, a dona Lia Rosa. Ela foi minha base e hoje tento ser uma base também para essas crianças”, conta em emocionante depoimento.

“A cidade de Pelotas precisa saber o que está acontecendo, como é a realidade nos bairros. A gente prepara ações sociais, procura auxiliar e não quer marketing, quer apenas ajudar as pessoas de verdade.”

Sul Jiu-Jitsu tem o mestre na região Alex Silva, líder da equipe André Conceição e seu filho Guilherme Conceição, criador do projeto Mateus da Rosa, com profs. faixa preta Elton Dobke, Marco Borba, André Vitória, Toni Morales, com a ajuda dos instrutores Rodrigo Lemos e família, Eder Gouveia, Paulo Goulart e professora Alana Dobke.

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