MATURIDADE : Idosos de Pelotas em pesquisa
Estudo acontece durante três anos e primeiros dados indicam desapego ao dinheiro e ao materialismo
Idosos de Pelotas que integram o grupo Maturidade Ativa do Sesc/RS estão participando da pesquisa “Propensão ao endividamento de pessoas idosas: um estudo sobre fatores de risco no Rio Grande do Sul”, uma parceria do Sistema Fecomércio-RS/Sesc e da UFRGS. Dos 351 entrevistados em oito cidades, com idades entre 57 e 85 anos, durante a primeira etapa da análise este ano, 46% não possuem dívidas, 31% estão com dívidas sérias e 23% possuem alguma, mas que não chega a comprometer a renda. A coleta de informações segue até 2018 em mais dois momentos.
Motivaram a ação o crescimento do uso do crédito consignado e a aparente falta de informação deste público sobre empréstimos e taxas de juros nessa modalidade. O objetivo é identificar a cultura da terceira idade em relação ao dinheiro e assim oferecer recursos detalhados para intervenções multidisciplinares, em especial no campo da educação financeira, que ajudem as pessoas na tomada de decisões mais autônomas e conscientes.
De acordo com o coordenador do trabalho, professor de Didática Geral da UFRGS, especializado em Educação e Envelhecimento, Doutor Johannes Doll, o fato da maior parte não possuir débitos pode estar ligado à educação, já que os idosos gaúchos estão acima do índice nacional no item escolaridade: 34% dos entrevistados possuem entre 9 e 11 anos de estudos e 31% têm 12 anos ou mais. Enquanto que a última pesquisa PNAD (2012-2013) identificou que 45% dos idosos brasileiros tem apenas até 4 anos de instrução formal.
Para o coordenador do Programa Sesc Maturidade Ativa, Eduardo Danilo Schmitz, o que chamou a atenção foi a postura em relação aos recursos. Oitenta e cinco por cento acreditam que é mais importante ajudar as pessoas do que guardá-los. “A gente pode perceber essa marca geracional que é a generosidade, essa postura de desapego”, revela Schmitz. Outro dado interessante e que vai ao encontro desta característica é aversão dos entrevistados quanto ao materialismo. Cerca de 71% concordam que os bens materiais não ocupam um lugar de centralidade em suas vidas. “O lado bom são os valores humanos, o lado ruim disso é que podem não se preocupar tanto com o dinheiro, correndo o risco de não controlar os gastos”, explica.
Para os próximos passos do estudo, os idosos foram divididos em dois grupos, baseando-se em critérios que foram estudados: idosos sem indicativos de endividamento e idosos com indicativos de endividamento. “Foram classificados dentro do grupo de idosos com indicativo de endividamento aqueles que: a) tinham mais de um crédito consignado; b) Tinham mais de 30% da sua renda comprometida com dívidas; e c) Relataram dificuldades para pagar seus débitos”, complementa Schmitz.
Comparando os dois grupos (idosos sem indicativos de endividamento X idosos com indicativos de endividamento), os pesquisadores perceberam que há uma diferença significativa na “capacidade de postergar desejos de compra”. “Essa foi a principal diferença entre os grupos. Ou seja, esse parece ser um tipo de comportamento que se constitui num risco para o endividamento. Aqui já temos um aprendizado para pensar em ações de educação financeira importante”, sinaliza ele.
O ESTUDO
Foi elaborado um questionário a partir de quatro escalas de riscos: materialismo, significado do dinheiro, hábitos e condutas de consumo e atitudes em direção ao endividamento, além de perguntas sobre a situação socioeconômica. A aplicação acontece em oito cidades do estado, Porto Alegre, Guaíba, Passo Fundo, Pelotas, Caxias do Sul, Bagé, Torres e Santa Maria, e ao longo de três anos, o que garante resultados mais completos e abrangentes. Mais informações podem ser obtidas pelo site www.sesc-rs.com.br.