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MONQUELAT : No tabuleiro do passado, as entrelinhas do presente

MONQUELAT :  No tabuleiro do passado,  as entrelinhas do presente
24 setembro
09:28 2021

O livreiro e autor Adão Monquelat foi sepultado dia 23

O livreiro que escrevia livros. Um narrador que ligava passado e presente. Servindo o mate, aguçava o olhar e perscrutava o labirinto do tempo. Entre as prateleiras abarrotadas de volumes, recepcionava os frequentadores mais insólitos. A prosa fluía com os amigos de décadas, bem como as novas gerações que adentravam na Livraria Monquelat. A placa informando sobre a compra, venda e troca, de livros antigos e modernos, não revelava tudo. Afinal, o térreo de prédio à rua General Telles, também era uma catedral. Mas, ao invés de orações, a comunhão acontecia em torno de leituras em andamento, possíveis fontes questionando a história oficial, aquele deslize de determinado autor, ou até algum dublê de historiador, que passou a publicar obras repletas de obviedades. À frente do encontro ecumênico, o pelotense Adão Fernando Monquelat, que se notabilizou como bibliófilo, boa prosa e muitos admiradores.

Acompanhado de “Jojo” no passeio

Nesta semana, repentinamente, o Monquelat – origem italiana e não francesa, como pode sugerir a grafia -, faleceu na quarta-feira. O sepultamento ocorreu ontem. Mas, se o Adão da Livraria, já não será mais encontrado, passeando com a cachorrinha Jojo, seguramente permanecerá presente junto àqueles que conviveram com o seu perfil curioso, sagaz e generoso. Em especial, a companheira Noris, filho Pablo, e enteadas Carolina e Raquel.

O “sebo” Lobo da Costa, que homenageava o poeta pelotense – nascido em 1853, e falecido em 1888 -, surgiu nos anos oitenta à rua D. Pedro II, e foi convertendo clientes em amigos,. No início da década seguinte, Monquelat descobriu exemplar do romance “A Divina Pastora”, autoria de Caldre e Fião, e originalmente publicado em 1847. A obra, objeto de desejo de muitos bibliófilos, era considerada desaparecida. Mas, o livreiro pelotense encontrou exemplar no Uruguai. A descoberta repercutiu, houve publicação em 1992, e Monquelat passou a identificar a livraria com o seu sobrenome – uma dica do jornalista e escritor Carlos Reverbel (1912/1997). Para Reverbel, principal responsável pela redescoberta e valorização da obra de João Simões Lopes Neto (1865/1916), Monquelat havia se tornado uma grife.

Percorrendo a Bibliotheca Pública Pelotense, Monquelat foi reunindo informações de jornais do século dezenove. O trabalho foi gerando livros como: “As Praças de Pelotas e suas Histórias” (Século XIX); “Notas à margem da história da escravidão”; “Senhores da carne (charqueadores, saladeristas y esclavistas”; “Pelotas dos excluídos (subsídios para uma história do cotidiano”; “O desbravamento do sul e a ocupação castelhana” – parceria com V. Marcolla; “Pelotas no tempo dos chafarizes” – coautoria com Guilherme Pinto de Almeida. Também foi um colaborador regular e qualificado do DIÁRIO DA MANHÃ.

Monquelat colaborava com o DM

(C0G0Y)

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