Diário da Manhã

O Dia Internacional do Orgulho LGBT foi celebrado na última sexta-feira e Pelotas tem um ótimo motivo para comemorar. É do município a gaúcha que irá representar o Rio Grande do Sul no Miss Brasil Gay2019, ano em que se completa meio século da luta pela igualdade de direitos, aceitação e respeito às diferenças.

Entretanto, Kamilla Duarte divide a rotina de concursos e passarelas com aulas em sete núcleos do Projeto Vida Ativa, da Prefeitura.

Para as dezenas de alunos que comparecem aos encontros semanais, sai a miss e entra o professor. Michael Farias Duarte, 30 anos, é bailarino formado em Educação Física e há dois anos leva atividades físicas, como a ginástica e a dança, para as comunidades por meio do projeto desenvolvido dentro da Secretaria de Educação e Desporto (Smed).

Assim como desfilar, ensinar também é paixão antiga. Michael, que desde a infância sonhava em ser professor e trabalhar com a dança como forma de expressão, já participou de 120 concursos. Como Kamilla, foi rainha de blocos carnavalescos pelotenses – a exemplo do Bruxa da Várzea – e da Corte do Carnaval, em mais de uma oportunidade.

“Fui bailarino na cidade de Pelotas e sempre foi um sonho ser professor, então busquei a licenciatura. Isso pra mim é magnífico. As alunas são essenciais, motivadoras. Eu vejo que conforme as alunas vivenciam comigo essa transformação, tentam buscar um pouco mais de conhecimento. A aula acaba se tornando um meio de comunicação”, explica.

A categoria de Kamilla no concurso é como transformista, uma “vida a dois” que ela mesma explica: é uma transformação de homem para mulher, em que as duas identidades coexistem. “Eu não vivencio as 24 horas de menina”, diz.

A procura pelo assunto em Pelotas ainda é restrita, avalia a miss, pois na comparação, outros municípios gaúchos têm demonstrado muito mais interesse em saber do que se trata. Porém, isso não diminui o orgulho em representar a cidade e o Rio Grande do Sul.

ALUNAS NA TORCIDA

Na Cohab Lindóia, onde as aulas do Vida Ativa ocorrem duas vezes na semana, a torcida pela miss é tão grande quanto o carinho pelo professor que transforma vidas. A última quarta-feira (26) preencheu o Clube Xavante com os ritmos vibrantes de funk, sertanejo e pagode, movimentando as dezenas de alunas.

Entre elas, está Marli Kringel, 53 anos, que já foi professora de Michael e hoje participa das aulas. Conhecendo a trajetória desde criança, ela elogia a competência e a “energia que transborda e contagia”, estimulando a evolução a cada passo de dança.

Márcia Quinta, 41 anos, comparece aos dois encontros semanais com a filha, mas acha pouco. Ela gostaria de ter mais aulas, pois essa é a primeira atividade física de que gosta de participar. “Sou aluna-fã. É uma pessoa que faz um diferencial, me traz energia e faz a preguiça ficar de lado. Ele ajuda na minha saúde, pra que todos os dias vença limites e me supere. Tô aqui batalhando pela minha saúde e torcendo por ele”, conta.

A alegria e entusiasmo de Michael contagiam. Daniela Ribeiro, 33 anos, é categórica ao dizer: “a aula dele é 10”. Juntas, as três moradoras da Cohab Lindóia e todos os outros alunos – na zona urbana e rural – aguardam com expectativa o resultado no concurso nacional.

MISS BRASIL GAY

O concurso Miss Brasil Gay ocorre em 17 de agosto, na cidade de Juiz de Fora, Minas Gerais. A premiação, em sua 39ª edição, contará com representantes de 25 estados brasileiros. O Rio Grande do Sul nunca ficou na primeira colocação, jejum que Kamilla pretende quebrar ao trazer o título inédito na volta para casa.

Na última quinta-feira (27), a prefeita Paula Mascarenhas recebeu Kamilla em seu gabinete e falou sobre a importância da iniciativa e de Pelotas estar nela representada. A gestora destacou que ações inclusivas e que valorizam as diferenças precisam ser estimuladas em todas as esferas do poder público, assim como vem sendo feito no município através da Semana da Diversidade e da criação do Conselho Municipal de Direitos e da Cidadania LGBT.

KAMILLA Duarte atua no Projeto Vida Ativa da Prefeitura

“O governo precisa defender o respeito as diferenças e a liberdade das pessoas poderem escolher. Temos que combater todos os preconceitos, pois isso também é a construção de uma sociedade de paz. Com respeito e tolerância”, enfatizou a prefeita.

O empenho de Kamilla, em dar visibilidade à causa, também foi elogiado por Paula. Assim como a conquista da Miss Universo Yolanda Pereira, em 1930, ela também pode estar fazendo parte de um momento histórico da cidade, a ser lembrado pela comunidade nas próximas décadas.

A ajuda dos pelotenses é essencial para a conquista, uma vez que a votação online a fim de escolher as 10 finalistas começa já na próxima semana. O apoio à candidata gaúcha pode ser manifestado pelas redes sociais do concurso (Facebook e Instagram) e mais informações estão disponíveis no site do Miss Brasil Gay 2019 (https://www.missbrasilgay.com.br/).