Situação na Z3 ainda é crítica
Prefeitura trabalha para recuperar danos
O prefeito Eduardo Leite foi ontem à Colônia de Pescadores Z-3 tomar ciência dos prejuízos e transtornos causados pelas cheias e determinou a elaboração de um projeto para a área do Cedrinho, a fim de minimizar os danos das chuvas no futuro.
Ao todo, 59 pessoas tiveram que sair, de suas casas inundadas, todas na Z3. A Defesa Civil e secretarias municipais – que continuam em alerta – ajudaram no resgate, acomodação e suprimento de alimentos e outros materiais emergenciais para amenizar o desconforto das famílias e trabalham para recuperar os estragos.
Nos últimos 15 dias, Pelotas registrou 240 milímetros de chuva, quando a média para outubro é de 104 milímetros. Somente durante a madrugada de ontem e as primeiras horas da manhã, as precipitações atingiram 50 milímetros.
A PONTE sobre o arroio Sujo, cuja cabeceira sentido Centro/Z-3 desmoronou na madrugada, já foi recuperada em um dos lados, permitindo a retomada da passagem de veículos. No local, o prefeito orientou a equipe para que a reconstrução dos danos seja imediata.
Na Colônia de Pescadores, as comunidades do Cedrinho e da Divineia foram as mais prejudicadas.
Junto ao presidente do Sanep, Jacques Reydams e ao assessor especial Paulo Morales, na presença dos responsáveis pela Defesa Civil em Pelotas, tenente Paulo Santos e João Artur Nascimento, o prefeito determinou que seja elaborado um projeto de construção de um “polder” (talude de proteção) à área do Cedrinho. Trata-se de um dique em todo o entorno do local e uma casa de bombas para esgotar a água da chuva, quando se verificarem grandes precipitações. A ideia é buscar recursos junto ao Ministério da Integração Nacional, que disponibiliza verbas específicas para projetos em zonas de risco
Morales e Reydams explicaram que o primeiro passo será o levantamento topográfico da área e, com ele, é possível elaborar o projeto, já estimado em aproximadamente R$ 220 mil, dos quais R$ 100 mil para a casa de bombas e R$ 120 mil para a estrutura do polder.
SOLIDARIEDADE
Robson Pereira Gomes, a esposa e três filhos estão abrigados na igreja Evangelho Quadrangular. Para ele, a solidariedade tem sido constante naquele local. “Estamos cedendo alimentos uns aos outros e as crianças são nossa maior preocupação. Nunca vi isso antes.”
Nascida na Z3, Rosemeri Costa de Souza, de 51 anos, tem um templo religioso e está ajudando a várias pessoas. “Vivi aqui toda a minha vida e nunca tinha visto tamanha inundação”, confidenciou. O prefeito esteve com ela, oferecendo ajuda.
QUADRO GERAL
O saldo do último período de chuvas registra casos de pessoas desabrigadas (que foram para um abrigo) ou desalojadas (que estão com parentes ou amigos), pontilhões e pontes danificados e a perigo, estradas e vias intransitáveis e emergências durante o dia e a madrugada. A situação vem exigindo plantão permanente da Defesa Civil e de serviços da prefeitura, prestados através das secretarias de Justiça Social e Segurança (SJSS), Desenvolvimento Rural (SDR), Serviços Urbanos e Infraestrutura (SSUI) e Sanep.
Todas as pessoas que saíram de suas casas são da Colônia Z-3. Dos 59 desabrigados, 32 são adultos e 27 crianças. Dez encontram-se na Casa da Acolhida e 49 se alojaram na comunidade da Igreja Evangelho Quadrangular da colônia Z-3 (antigo salão Chaparral) ou em parentes e amigos.
A Divisão do Porto de Pelotas registrou, na medição realizada às 7h30min de ontem, a marca de 2,10 metros de água acima do nível normal no canal São Gonçalo. O chefe da Divisão, Cláudio Oliveira, informa que a média é em torno de 1,50 metro.
Durante a madrugada, por volta das 3h, a Defesa Civil (DC) solicitou apoio de pessoal, caminhão, retroescavadeira e caçamba à SSUI. A ponte de entrada à Colônia Z-3 teve a cabeceira desbarrancada e foi isolada. “Havia muito vento (90 km/h) e registrou-se um princípio de pânico, que foi contornado,” afirmou o secretário executivo da DC, João Arthur Assumpção do Nascimento, acrescentando que durante toda a noite aquela comunidade teve acompanhamento, com equipe ajudando a levantar móveis e a remover mais um adulto e três crianças da área do Cedrinho, onde o arroio transbordou.
No Pontal da Barra, a situação também é crítica. O local está isolado. Houve destruição da estrada de acesso e o Corpo de Bombeiros encaminhou à Defesa Civil chamada para remoções que não se confirmaram. A Divisão do Porto esclarece que o excesso de água do Guaíba e do canal São Gonçalo desce para a Lagoa dos Patos, onde o represamento é inevitável devido ao forte vento leste, comprometendo o escoamento para Rio Grande. Esse quadro é o responsável pelos alagamentos do Pontal, da Z-3 e dos balneários do Laranjal. Na madrugada desta quinta-feira e pela manhã, a água ultrapassou o calçadão da av. Dr. Antônio Augusto Assumpção Júnior, na altura do Shopping Mar de Dentro.
A Secretaria de Serviços Urbanos e Infraestrutura começou o mapeamento de estragos. O diretor executivo Jéferson Dutra explicou que a maior parte da drenagem em Pelotas dá-se por gravidade. “Considerando o excedente de água no São Gonçalo e na laguna, esse método não funciona, restando as casas de bombas como única alternativa para a tarefa de escoamento.”
O secretário de Justiça Social e Segurança, Tiago Bündchen, informou que a SJSS está recebendo donativos de colchões, roupas, fraldas, material de limpeza e de higiene pessoal, assim como alimentos não perecíveis, na rua Marechal Deodoro, nº 404. A Secretaria tem estrutura para garantir abrigo e refeições. O Centro de Referência de Assistência Social (Cras) Areal está de sobreaviso (plantão) para receber notificações de emergências. Doações ainda podem ser entregues no terceiro piso do Terminal Rodoviário.
RURAL
A zona rural também está comprometida. Embora nenhuma das estradas principais tenha sido interditada, muitas secundárias estão intrafegáveis e há pontilhões a perigo. A Secretaria de Desenvolvimento Rural, com base em dados repassados pelas administrações distritais, informou que estão interrompidas as estradas das colônias Dona Júlia, Picanço, Oliveira e São Marcos (Santa Silvana) e a passagem sobre o pontilhão próximo à Escola Almirante Tamandaré.
O Sanep segue em alerta. O presidente Jacques Reydams vistoriou os canais da cidade, constatando que estão com volume controlado. No Laranjal, as bombas estão com funcionamento a pleno. Porém, devido ao grande volume de água da laguna, os dois canais (um na rua 29 e o outro na avenida Espírito Santo), que deveriam desaguar ao natural, estão com represamentos.