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terça, 21 de maio de 2024

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TEATRO : Carne crua para saciar a fome de humanidade

TEATRO : Carne crua para saciar a fome de humanidade
23 novembro
08:46 2015

Mostra de encenações do curso de licenciatura em teatro, proporcionou montagens com estudantes da UFPel 

Por Carlos Cogoy

Não me internem, disse ela ao final da apresentação. Bem-humorada, mas atenta ao que havia provocado. Seu pedido de condescendência do público, tanto expressou o anseio pela acolhida, quanto demonstrou clareza acerca de questões do cotidiano. Dana Pestano, diretora da montagem “Pulso”, apresentada no sábado à noite na Sala Carmen Biasoli, está entre os talentos da Mostra de Encenação do curso de licenciatura em teatro da UFPel.Sexta, sábado e domingo, houve apresentações de espetáculos infantis e adultos. Conforme o prof. Adriano Moraes: “Mais do que uma mostra de espetáculos, a experiência serve de espaço pedagógico para que os futuros professores compreendam os diversos modos de organização de um acontecimento teatral”.

Destaque para Taís Galindo interpretando “Norma”

Destaque para Taís Galindo interpretando “Norma”

PULSO – Palco na penumbra, e atriz sentada permanece silenciosa. Somente sua expressão facial, perscrutando o insondável, altera-se diante da estridência ao redor. Sons urbanos, ruídos das ruas, vozes que se confundem. Ambiente tumultuado que, de tão intenso, remete à solidão da personagem. Ela some na penumbra e outro canto do palco está iluminado. Numa caixa que se move, duas atrizes ocupam faces distintas.

Elas estão aprisionadas e sufocadas. Encaixotadas pelas paredes de algum apartamento, ou oprimidas pelas barreiras que desafiam a sobrevivência, curvam-se, deitam-se e reviram os corpos num gestual de angústia. Noutra cena, dois percussionistas dão o ritmo no palco. O elenco irrompe feito multidão apressada. Em diferentes direções, personagens cruzam o palco. Eles esbarram aos encontrões. Não há tempo para desviar nem cair. Os embates, porém, são indolores pois cada qual carrega junto ao peito um escudo esponjoso. Assim, os choques apenas os fazem girar, mudando o rumo, mas seguindo até novo atrito. Nas proteções, constam códigos de barras.

Sob o pulsar da batucada, busca desenfreada, com os consumidores batendo no que surgir pela frente. Noutro momento, imagens de Pelotas e pelotenses são exibidas ao fundo do palco. O elenco adentra e, integrando-se à tela, vira de costas ao público. No dorso nu dos atores, são projetadas ruas, ruínas de casarões, placas publicitárias, faces e contradições da cidade. Ao final, Dana sobe ao palco e, de um balde, vai pegando carne crua. O elenco faminto de humanidade, devora as sobras e vísceras. Pulsa o instinto para sobreviver na selva tecnológica.

Diretora Dana Pestano surpreendeu o público

Diretora Dana Pestano surpreendeu o público

GRUPO da montagem “Pulso”: Alice Iturriet; Allan Miranda; Carolina Pinto; Giovana Guarizzo; Luan Borba; Rodrigo Rocha; Shayda Cazaubon; Toko Ciocca.

NORMA também foi encenação apresentada sábado à noite. Baseada numa história recorrente, o declínio após a fama e glória, destaque para a interpretação de Tais Galindo. Com direção de Thalles Echeverry, no palco também a interpretação de Marcos Kusner. “Norma” é adaptação do filme “Crepúsculo dos deuses”, sucesso dos anos cinquenta. Sonoplastia de Andressa Centeno, e iluminação de Diego Carvalho. Os figurinos e cenário foram criados coletivamente pela equipe da encenação. 

 

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