Diário da Manhã

domingo, 05 de maio de 2024

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ESPIA SÓ : O violão e a trajetória de Octávio Dutra

03 junho
09:39 2016

Nesta sexta às 19h30min na Bibliotheca Pública, Márcio de Souza autografará livro e “songbook” sobre o violonista Octávio Dutra

Por Carlos Cogoy 

Pesquisador Márcio de Souza (UFPel)

Pesquisador Márcio de Souza (UFPel)

Violonista, compositor, arranjador e maestro porto-alegrense Octávio Dutra (1884-1937), foi precursor do chorinho no Estado.  Seu pioneirismo, introduzindo o bandolim na musica gaúcha, e conquistando a aceitação do violão em esferas mais elitizadas, proporcionou legado singular. A trajetória do compositor e instrumentista, motivou o professor Márcio de Souza (UFPel), cujo doutorado enfoca sobre Octávio Dutra. Como desdobramento da pesquisa acadêmica, Márcio elaborou o projeto “Descobrindo o Acervo Musical de Octávio Dutra”. A ideia foi selecionada no programa “Rumos” do Itaú Cultural, edição 2013/2014, que financiou os livros “Espia só… A trajetória Musical de Octávio Dutra”, e  o songbook “Espia só… As músicas de Octávio Dutra”. O projeto contou com a parceria da UFPel, que contribuiu com o apoio estrutural e tecnológico para a digitalização e catalogação do acervo através do Laboratório de Ciências Musicais. O lançamento das obras será nesta sexta na Bibliotheca Pública Pelotense (BPP). Além dos autógrafos, apresentações musicais.

LANÇAMENTO – Às 19h30min, destaque às edições que contaram com a coordenação editorial de Omar “Matico” de Barros Filho, e trabalho da Guarujá Produções. Coordenação executiva de Carlos Peralta. Márcio acrescenta: “Além do lançamento dos livros, programamos um breve debate sobre Octávio Dutra. Na parte artística iremos apresentar diversas músicas de Octávio Dutra com os grupos Retrato Brasileiro, onde toco junto com Nivaldo José, e o grupo de choro Ninho do Pardal, que reúne Julio Zabaleta, Julinho do Cavaco, Lyber Bermudez, Rui Madruga, Fabrício ‘Pardal’ Moura e Otávio DelleVedove. Também o projeto de extensão da UFPel ‘Choro de Passarinho’, com jovens músicos que estão tocando choro com muita propriedade. Teremos um bom panorama do que foi a música instrumental no Estado entre o fim do século 19 e primeiras décadas do século 20. O livro e songbook serão comercializados pela livraria Mundial”. A promoção é da Associação Amigos do Conservatório de Música da UFPel. ENTRADA FRANCA.

Precursor Octávio Dutra (1884/1937)

Precursor Octávio Dutra (1884/1937)

CHORO DE PASSARINHO – De acordo com a divulgação, o grupo “surgiu no primeiro semestre do ano passado, sendo influenciado pelo intenso movimento do gênero musical ‘Choro’ que há na cidade. Formado por alunos dos cursos de música da UFPel, foi idealizado inicialmente por Thiago Amaral, então aluno do curso de Bacharelado em Música Popular. O grupo busca visitar as obras de grandes compositores do chorinho, tais como: Joaquim Antônio da Silva Callado; Ernesto Nazareth; Jacob do Bandolim; Pixinguinha; Waldir Azevedo; Ari dos Santos; Raul de Barros; Fon-fon; Luís Américo. Atualmente o grupo faz parte do projeto de extensão ‘Encontros de Música Popular’, tutorado pelo prof. dr. Rafael Henrique Soares Velloso e colaboração do prof. dr. Raul D’Ávila”. Na formação: Ana Paula de Lima (pandeiro);  Camila Barbosa Castro (pandeiro); João Pinheiro (violão); Julia Alves (flauta); Klewtton Alves (cavaco); Marcelo Miranda (violão); Mateus Messias (flauta); Thiago Amaral (bandolim); Vasco Jean Azevedo (violão sete cordas).

MEDIADOR – O autor explica sobre Octávio Dutra: “Ele foi um mediador da música em sua época, e vivenciou a tradição e a modernidade dentro da música brasileira. Sem optar por regionalismos radicais, esteve sempre em sintonia com a música do seu tempo, compondo temas direcionados para o contexto artístico, social, político e comercial da sociedade em que viveu. Minha tese recebeu o título ‘Mágoas do violão – Mediações culturais na música de Octávio Dutra: Porto Alegre (1900-1935)’. Este artista, embora atualmente pouco conhecido, revelou-se fundamental para entendermos a primeira década da música no século 20 no Estado. Ele morreu em 1937 e sua memória foi se apagando da cena musical. Somente a partir dos anos 1990, com o processo de remasterização digital foi que seus discos de 78rpm começaram a chamar a atenção novamente. E a descoberta do acervo de partituras também foi fundamental para conhecermos melhor seu legado. Eu estudo a sua obra desde 2002. Ele foi um grande mediador da música, entre o erudito e o popular, o antigo e o moderno, o centro e a periferia, as elites e o povo, como pude constatar ao analisar sua trajetória e obras”.

PUBLICAÇÕES – Márcio menciona acerca do livro e o songbook: “No livro ‘Espia só…’ procuramos abordar todas as facetas do compositor, violonista, maestro e professor. Faltava contextualizar sua participação na cena musical gaúcha. Sabíamos da sua existência, mas não conhecíamos a dimensão da sua atuação e da sua obra. Tínhamos um olhar para a música no Estado, como predominantemente erudita e folclórica. Octávio Dutra foi um músico urbano, compôs choros, valsas, sambas. Foi um serenatista, chorão, maestro e professor muito respeitado. Foi pioneiro nas gravações de discos no Rio Grande do Sul. A ideia do ‘songbook’ surgiu da necessidade de divulgar a sua obra. Não existe artista que se perpetue ou seja conhecido sem a publicidade de seu legado. Além de um livro que abordasse a sua trajetória, precisávamos também tornar público uma parte de sua obra. A pesquisa foi feita diretamente no acervo do compositor. Fizemos a revisão, digitalização e editoração. O formato ‘songbook’, com a melodia e harmonia, permite que cada músico ou estudante faça seus próprios arranjos, como, de fato, acontecia na época de Octávio Dutra. Tem também músicas para violão solo, totalmente inéditas e de interesse musical e histórico. Um CD com as músicas está encartado, com gravações feitas pelo Duo Retrato Brasileiro”.

Espia só capa livroOs acordes de Márcio de Souza

Gaúcho de Esteio, Márcio conta que o interesse pela música surgiu na infância. À época, amigo e vizinho, recebia aulas de piano em casa. Porém, diz que bastou acorde ao violão para o encantamento. “O prazer de tocar foi o que mais me motivou no início. Também fui percebendo que as pessoas ficavam fascinadas com solos de violão. Nesse período, ouvia e tocava de tudo. Nossas escolhas sonoras ocorrem mais tarde”.

CONSERVATÓRIO Musical Carlos Gomes em Porto Alegre. Márcio ingressou aos doze anos, e teve como professores Beatriz Meneguzzi de Esteio, e o pelotense Joaquim Machado. Após setes anos, concluiu a formação em violão clássico. “Depois ingressei na graduação em música na UFRGS, onde estudei com Flávia Domingues Alves e Daniel Wolff. Segui no mestrado na Bahia, na UFBA, na classe de Mário Ulloa (Costa Rica). Minha tese de doutorado foi sobre o violão. A gente vai se envolvendo com a música, o campo musical e os colegas. Quando percebe, já não tem mais volta”, descontrai o pesquisador.

UFPEL – Em 2002, Márcio ingressou no Conservatório de Música da UFPel. Ano seguinte esteve à frente do Encontro de Violonistas. Entre 2006 e 2009, doutorado em história cultural na PUC/RS. “No doutorado pude ampliar minhas ferramentas metodológicas para a pesquisa em música, meu maior interesse no momento. A vida acadêmica proporciona lecionar, pesquisar, mas também desenvolver atividades culturais, como foi o Encontro de Violonistas. De lá para cá tenho colaborado com a promoção eventos, palestras, recitais e pesquisas. Sempre procurando divulgar o violão, principalmente o repertório brasileiro”, diz Márcio, atualmente professor-adjunto no Centro de Artes da UFPel.

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